Religiões afro-brasileiras
As religiões afro-brasileiras possuem um longo histórico de formação em nosso país, já bastante dissecado pela historiografia. Desde os primeiros africanos a pisarem em terras brasileiras, trazidos como escravos no bojo do processo colonial, tivemos notícias de inúmeras práticas culturais, especialmente religiosas, a se desenvolverem no interior do Brasil, como as bolsas de mandingas, batuques e calundus. Todas essas práticas deram origem a uma ampla rede religiosa, que após a abolição se desenvolveu para a formação do que chamamos hoje Religiões Afro-Brasileiras, como, por exemplo, o candomblé na Bahia, o tambor de mina no Maranhão, o xangô em Pernambuco, o batuque no Rio Grande do Sul e a umbanda no Rio de Janeiro.No entanto, com o início do século XX, tais religiões atingiriam outras regiões e Estados da Federação, ainda que tardiamente. Foi ao longo desse século que pudemos presenciar a migração das religiões mais populares, especialmente o candomblé e a umbanda, para áreas ainda não exploradas, nas quais se desenvolveram intensos campos religiosos de práticas afro-brasileiras. Este foi o caso dos estados da região Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal, que possuem hoje campos religiosos bem consolidados e que atraem centenas a milhares de fiéis às suas casas de culto.Juntamente com a consolidação de seus campos religiosos, os referidos estados despertaram também o interesse de inúmeros pesquisadores, que procuraram compreender como este complexo sistema simbólico se relaciona com as sociedades em que tais campos estão inseridos. Buscam ainda encontrar as peculiaridades de cada escola religiosa, em alguns casos tentando resgatar o histórico de formação dessas religiões em suas regiões, compondo importantes trabalhos de pesquisa sobre as religiões afro-brasileiras fora das regiões onde surgiram. Este é precisamente o objetivo deste livro: trazer a público o campo religioso afro-brasileiro no Centro-Oeste, através dos escritos de pesquisadores e estudiosos que se dedicaram a suprir esta lacuna na historiografia religiosa afro-brasileira. [...].Aqui reunimos textos que abordam desde a presença da umbanda e do candomblé no Distrito Federal; em Cuiabá, no Mato Grosso; em Goiânia, no estado de Goiás; e em diversas cidades do Mato Grosso do Sul como Campo Grande, Dourados e Naviraí. Os enfoques e temáticas variam desde análises históricas, abordando os processos de formação destas religiões em suas regiões; antropológicas, buscando destacar aspectos culturais e formas de relação entre terreiros na atualidade; teológicas, buscando os elementos religiosos e metafísicos que compõem as práticas religiosas; até geográficas, enfatizando a territorialização e disputas simbólicas no mercado religioso entre diferentes práticas no interior de seus campos religiosos.Quando nos referimos ao termo religiões afro-brasileiras, ou mesmo cultos afro-brasileiros, é necessário considerar o plural. Ao se explorar a literatura especializada entramos em contato com uma imensa gama de variedades religiosas, por exemplo: macumba, umbanda, quimbanda, candomblé, candomblé de caboclo, xangô, batuque, tambor de mina, cabula, xambá, terecô, catimbó, jurema, pajelança etc. A maioria destas religiões citadas é específica de algumas regiões do país, com exceção das quatro primeiras, que se encontram em todo o território brasileiro. Interessa notar que muitas dessas modalidades religiosas se entrecruzam e cada uma delas dispõe de bastante diversidade em seu próprio interior.Mario Teixeira de Sá JuniorLéo Carrer NogueiraSaulo Conde Fernandes
